Traduzir-se...
Homenagem a Ferreira Gullar.
Uma
parte de mim
é
todo mundo:
outra
parte é ninguém:
fundo
sem fundo.
Uma
parte de mim
é
multidão:
outra
parte estranheza
e
solidão.
Uma
parte de mim
pesa,
pondera:
outra
parte
delira.
Uma
parte de mim
almoça
e janta:
outra
parte
se
espanta.
Uma
parte de mim
é
permanente:
outra
parte
se
sabe de repente.
Uma
parte de mim
é
só vertigem:
outra
parte,
linguagem.
Traduzir-se
uma parte
na
outra parte
que é uma questão
de
vida ou morte...
será
arte?